26 de janeiro de 2011

Os barulhos

Sinto falta dos barulhos que minhas filhas faziam.
A música que tocava alto no quarto da Mimi enquanto ela fazia os trabalhos da UNB, e depois, enquanto preparava as aulas ou corrigia provas. Como dava conta de se concentrar com aquele rock tocando?
Sinto falta também do seu silêncio matinal, já que ela jamais gostou de conversar logo cedinho antes de sair pra trabalhar.

Sinto falta da risada solitária da Vê enquanto assistia, à noite, as séries americanas pela tv. O som baixo do aparelho, mas de repente... uma risada deliciosa que me fazia sorrir ao ouvi-la.
Sinto falta também do silêncio do seu quarto, quando eu passava algum tempo ali, depois que ela criou asas e voou.

Sinto falta da tagarelice da Rai, que acordava falando e falava até dormindo. O exagero dos pormenores de todas as coisas que contava. O "fazer questão" de minha presença no café da manhã só pra me colocar a par de tudo o que havia acontecido na noite anterior.
Não sei o que é sentir falta do silêncio da Rai porque nunca houve silêncio com ela.

Sinto falta de ouvir o barulho do portão eletrônico nas madrugadas, e saber que uma já estava em casa. E depois a outra. E a outra.
Sinto falta de olhar pela fresta da porta do meu quarto e ver que a luz do corredor ainda estava acesa, indicando que ainda havia alguém fora de casa.
E sinto falta também de, depois de um cochilo, constatar que essa mesma luz já estava apagada. Minhas filhas seguras. Meu sono tranquilo até o amanhecer.
Sinto falta de não fazer as comidas preferidas, de não poder ligar com mais constância, de não partilhar mais do dia-a-dia delas.
Bela Vista-Brasília: 250 kms que são percorridos em 3 horas. Mas pro meu coração de mãe, é uma distância imensurável.
Saudades. Muitas.

4 comentários:

  1. nossa Helô, QUE LINDO esse texto! Tão lindo que até chorei...

    adoro o jeito que você escreve, acho que nossas almas se parecem, de alguma forma...

    Lindo texto. Tão lindo quanto suas filhas... e você bem sabe o quão lindo isso quer dizer né?! ;)

    Bjs!

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  2. Ana, vindo de você sempre é um super elogio. Eu sabia que vc gostaria. Talvez porque nossas almas se pareçam, certo? Bj

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  3. Deu até vontade agora de voltar para a casa da minha mãe.

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  4. Helô,

    Como dói viver algo que é bom, não é? Que dicotomia doida essa! Me reconheci no seu texto, no que vive e no que ainda não vivi. Senti tanto a saída do meu filho de casa. Tanto e de forma tão intensa que não conseguia me reconhecer. Quem era aquela pessoa que eu tinha me transformado? Hoje, com Ana Luiza ainda em casa, penso no quão duro vai ser esse momento, da mesma forma que entendo o quão bom pode ser tudo isso para eles. Vida é coisa estranha mesma. Mas como disse na crônica de hoje, parafraseando Millôr Fernandes, viver é desenhar sem borracha.

    Beijo grande. Texto lindo!

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